Lula incentiva aliados a enfrentar centrão após frustrações no governo
O presidente Lula (PT) tem orientado ministros e aliados a confrontar divergências com o centrão e a oposição, em resposta a derrotas recentes do governo relacionadas às mudanças no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A estratégia visa expor a resistência de parlamentares de centro e direita em relação à implementação de justiça tributária no Brasil.
Confronto com o centrão
De acordo com assessores do presidente, a instrução é deixar claro que o governo não aceitará cortes em programas sociais para manter privilégios. Um colaborador direto de Lula afirma que o governo está decidido a enfrentar essa disputa e que o presidente adotou uma política econômica inclusiva desde o início de seu mandato, respeitando as limitações fiscais. Medidas que restringem os direitos dos mais pobres seriam o limite para o governo.
O presidente tem incentivado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), a argumentar em favor da taxação dos mais ricos como forma de desonerar os mais pobres. Haddad, defensor de impostos progressivos, tem se posicionado de forma assertiva sobre o tema. Em entrevista à Folha, ele destacou que enfrenta os “140 mil super-ricos” para promover justiça tributária.
Estratégia de comunicação
O PT lançou recentemente um vídeo sobre a “taxação dos bilionários, bancos e apostas”, afirmando que o governo irá taxar aqueles que pagam pouco ou quase nada. Um ministro destacou que, mesmo sem o incentivo direto de Lula, seus auxiliares adotariam esse discurso devido à influência do presidente.
A inclusão da proposta de derrubar mudanças no IOF na agenda de votações, sem aviso prévio ao Planalto, foi vista como um insulto por Lula. A ação foi interpretada como uma antecipação da disputa eleitoral de 2026, com a intenção de enfraquecer o governo. Diante desse cenário, a ordem é comunicar publicamente que a gestão petista busca taxar milionários para financiar serviços e programas sociais, enquanto a oposição defende privilégios para poucos setores.
Reação do governo e desafios futuros
A estratégia de Lula visa conquistar o eleitorado desde já, em preparação para a corrida presidencial do próximo ano. No entanto, há aliados que acreditam ser possível reorganizar a relação com o Congresso, preocupando-se com as consequências políticas de uma estratégia de confronto aberto.
A gestão petista enfrenta pressão após elevar o IOF para operações de câmbio e crédito empresarial, na tentativa de aumentar a arrecadação sem cortar mais despesas. Houve um recuo parcial do aumento, com Haddad negociando uma alta menor e propondo outras medidas para incrementar a receita, como o fim da isenção de investimentos incentivados e aumento de impostos para apostas, fintechs e JCP.
Apesar das tentativas de negociação, o Congresso aprovou um decreto legislativo para sustar o aumento do IOF, o que foi visto como uma traição ao acordo prévio com Haddad. A situação gerou descontentamento no governo, que agora percebe que não pode contar com o Congresso Nacional.
Preocupações e consequências políticas
Embora a ideia seja confrontar publicamente as forças políticas do Congresso, há uma preocupação em evitar um rompimento definitivo. Alguns aliados de Lula devem se abster do embate retórico para manter diálogo com líderes do Legislativo, como Hugo Motta e Davi Alcolumbre.
A deterioração das relações entre Executivo e Legislativo é motivo de preocupação, especialmente para petistas que temem um cenário semelhante ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016. A frustração é grande, principalmente com Motta, eleito presidente da Câmara com apoio do PT. Ele tem sido pressionado por não conseguir liberar emendas parlamentares, alvo de restrições do STF.
Reflexões finais
O governo de Lula enfrenta desafios significativos na relação com o Congresso, enquanto busca implementar uma política de justiça tributária. A estratégia de confrontar o centrão e a oposição visa fortalecer a posição do governo, mas também traz riscos de deterioração política. A capacidade de manter um diálogo construtivo com o Legislativo será crucial para o sucesso das políticas propostas e para a estabilidade do governo nos próximos anos.